terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O CARNAVAL DO MEU TEMPO

Por volta dos anos 50, época em que eu era jovem, vivi uma das fases da minha vida muito importante. Era difícil, em termos financeiros, pois vinha de uma família humilde e tudo se tornava complicado mas conseguia-se sobreviver com muito trabalho e sacrifício. Ainda bem que a minha mãe era pessoa de "muita garra", trabalhava bastante e também o meu irmão mais velho, dedicadíssimo à família. Comecei a trabalhar aos quinze anos e ao mesmo tempo estudava, graças a Deus.
Nesta época o Carnaval era maravilhoso! Esperávamos com muita ansiedade que chegasse. O início era a abertura de lojas vendendo apetrechos carnavalescos: confete, serpentinas, lança-perfume, brinquedos para atirar água, algumas fantasias, etc... As escolas de samba e blocos já se preparavam com bastante antecedência. Os clubes também se esmeravam para receber os associados e visitantes. Na minha cidade tudo era muito bonito. Nos clubes eram quatro noites e três matinês. Em todas as noites, havia um "Corso" que era uma carreata. Essa percorria as ruas centrais e se iniciava às 19:30h. Quem tinha carro (poucas pessoas) saía com a família e os demais iam em caminhões, na carroceria, todos com muita alegria, fantasiados ou não, jogando confetes, serpentinas, lança-perfume, água, talco, etc... Após o cortejo iniciava o desfile dos blocos. A maioria satirizando os problemas da época. Homens fantasiados de mulher ( o que não podia faltar), simulação de situações como ambulâncias, pacientes na maca e até defuntos... Homens vestidos de "cavalinhos" vinham abrindo alas para o povo não impedir a passagem dos blocos e escolas de samba. Os bonecos gigantes também já existiam e as crianças ficavam assustadas, era "um horror!!!".
Durante o dia também alguns blocos, chamados de "blocos sujos" ficavam nas ruas e no final desciam uma rua e terminavam a apresentação em um clube no Rio Tietê. A maioria vestida com fantasias de papel crepom, pulava do trampolim sob o aplauso da platéia que os acompanhava até o fim. Neste clube havia um "Coxo", uma espécie de piscina dentro do rio que era a alegria da garotada e também dos adultos que gostavam de nadar ou brincar na água.
Nos salões cantavam-se as marchinhas e os sambas de carnaval com muita alegria e descontração.
Na 3ªfeira, muitos não iam ao salão, porque na 4ª iniciava-se a Quaresma e iam à missa logo cedo.
Na 4ªfeira, a atração era a porta da cadeia que ficava lotada de curiosos para ver os foliões que foram presos durante o período. Ao meio dia todos saiam fantasiados e muito envergonhados pelo vexame que estavam passando. Mas tudo era alegria e fazia parte do contexto.
Hoje recordo com muita saudade daquele tempo mas, apesar de tudo, continuo curtindo atualmente, à minha maneira, tirando proveito do que é bom, sei escolher o que é melhor... Não sou saudosista, nem vivo no passado, estou escrevendo para relatar como era o carnaval do meu tempo de jovem para aqueles que se interessarem, por curiosidade. Deve faltar muita coisa mas escrevi o que me recordo.
Obrigada pela atenção e Muita Paz para a sua vida!!!

Benê Bragantini

Um comentário:

Izabel Alves Costa disse...

O Carnaval do Meu Tempo é um texto de valioso conteúdo histórico. Consegui voltar a um passado que não cheguei a testemunhar, ainda que muito próximo do meu tempo.
Creio que será útil a outras pessoas que possuem curiosidade histórica.